quarta-feira, 30 de março de 2011

Hora de amor



No teu corpo existe a seda
A penumbra delicada do fio
A palavra que não foi dita
Por desdita ser no afã do gesto.

No teu mais fundo existe
Em mim sagrado relicário
De amores-perfeitos o perfeito ser
De teus seios a manhã inveja
Perante orvalhado olhar, cristalino
Leito de gemidos e gritos assim feito.

No teu corpo aprendo a soletrar
Beijos que por mim pensava dados
Lenta a língua o palato molha
E os lábios escrevem na ardósia
Pele inventada no murmúrio
De búzios, predador de estrelas
Fundo o mar de areias soltas
Em teu olhar doirado a luz inclina.

Afasto teus joelhos no altar das mãos
Afundo-me em teu triangulo d’ondas
Aberto ao (in) teorema do beijo.
Águas redentoras por mim acesas
Em tuas ancas desenho o voo
E por cima dos ciprestes, vejo
O mundo p’ra lá da hora.

Pergunto-me, se
No horizonte encontro-te
Ou caio já no abandono do ser
Esperando que no teu ventre, nasça
O lírio novo que me açoite.

Joaquim Monteiro